Sem a intenção de formar uma colecção com características predeterminadas, é no entanto possível estabelecer um percurso cronológico e estilístico, evidenciado nas catorze peças descritas em detalhe, que abrangem as dinastias Hang (206 a.C.-220 d.C.) e Tang (618-906 d.C.) com peças para o mercado interno chinês, e os principais períodos de comércio entre a China e o mundo ocidental, de meados do século XVI ao século XIX.

Como um dos mais célebres exemplares da presença pioneira dos portugueses na China, destaca-se a Garrafa de Jorge Álvares, datada de 1552, decorada em tons de azul cobalto sob o vidrado, apresentando uma das primeiras inscrições em língua portuguesa, na porcelana chinesa. Do mesmo período, data o Prato de grandes dimensões exibindo a esfera manuelina e a divisa cristã “IHS”, símbolo da Companhia de Jesus, fundada por Inácio de Loyola e reconhecida oficialmente pelo Papa Paulo III em 1540.

O Frasco de chá representa Inácio de Loyola sobre cada face, celebrando o bicentenário do estabelecimento da ordem em 1740. Em 1542, os padres jesuítas, Francisco de Xavier e Simão Rodrigues da Azevedo, chegavam ao Oriente, mais precisamente a Goa, ponto de partida para uma expansão religiosa, aceite na China somente em 1582. A par das iniciais Jesuítas, outras marcas religiosas como a legenda “INRI” – Jesus Nazarenus Rex Iudaeorum, presente na Taça e Pires representando a crucifixação de Cristo, também figuram na porcelana de exportação.

O Prato com o brasão dos Almeidas ou Mellos, produzido no final do século XVII, é um dos primeiros exemplares a ser fabricado na designada Kraakporselein, comprovando que foram os portugueses os primeiros a encomendar este estilo de peças, de características que anunciam o fabrico em grande quantidade. As kraak, de porcelana fina decorada a azul cobalto sob o vidrado brilhante e ligeiramente azulado, com um tema central que poderá incluir flores, aves, insectos e gamos, a caldeira e aba tratadas como uma só e divididas em painéis geralmente preenchidos com flores e motivos simbólicos, são geralmente associadas à Companhia das Índias Orientais holandesa (Vereenigde Oostindische Compagnie – VOC), que a partir de 1605 passava a controlar o comércio da porcelana chinesa. O museu possui uma peça ilustrativa do comércio sino-holandês, o Prato no qual figura o navio Vrijburg, construído em 1748 para a Câmara do Comércio de Zeeland da Companhia das Índias Orientais, tendo permanecido em actividade até 1771.

Cerca de 1680, os esmaltes policromos são introduzidos e a paleta conhecida por “família verde”, que inclui vários tons de verde combinados com amarelo, vermelho ferro, castanho, beringela e preto, remete o “azul e branco” para as peças mais vulgares. Entre c.1705 e 1730, a decoração “imari chinês”, que combina azul sob o vidrado, vermelho e ouro, apresenta uma alternativa à “família verde”. O Prato, da dinastia Quing, é um dos mais ricos exemplares desta decoração, também representada em várias outras colecções de projecção internacional.

Em 1700 inicia-se o comércio das Companhias das Índias Orientais inglesa e francesa, aumentando o volume das encomendas, e a partir de c.1730 a “família rosa”, tendo como esmalte dominante o cor-de-rosa, incluindo também o amarelo, vermelho ferro, verde, azul, castanho, preto e ouro, sucede à “família verde”. Porcelanas cuja forma e decoração são principalmente inspiradas em modelos de prata, faiança e porcelana europeia, tornam-se as mais desejadas. O Museu do Caramulo guarda, entre outras peças influenciadas por protótipos ocidentais, uma Chocolateira inspirada num modelo de prata francesa do final do século XVII e um Par de floreiras em forma de cómodas francesas Luís XV da metade do século XVIII. A porcelana armoriada ocupa uma parte extensa das encomendas europeias, a grande maioria destas peças teriam como destinatários os reis e diversos membros do clero e da nobreza.

Pertencentes a esta categoria, destacam-se uma Molheira com o brasão de armas do Bispo do Porto, c.1800–1810, um Prato coberto com as armas de D. Luís de Castelo Branco Correia e Cunha, c.1750 e um Bule, com as armas de Manuel de Saldanha e Albuquerque, c.1760.

Estas encomendas, incluindo o Prato coberto representando o veleiro português “Brilhante” foram destinadas ao mercado português, sendo muito posteriores ao nosso domínio comercial, demonstrando o interesse contínuo pela porcelana chinesa que se mantém até ao presente.