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Um dos contributos tecnológicos iniciais da marca foi o desenvolvimento do eixo De Dion, em que a potência era transmitida às rodas através de veios independentes ao eixo, que era separado, permitindo não só um maior controlo do chassis, como também um elevado nível de conforto a todos os ocupantes.
O primeiro grande sucesso comercial da marca surgiria com a apresentação do modelo Single Cilinder em 1899, um leve quadriciclo, equipado com um motor monocilíndrico que, ao longo do tempo, foi aumentando a sua cilindrada inicial, de apenas 402cc, para uns mais expressivos 942cc em 1906. O chassis era do tipo tubular, separado da carroçaria, possibilitando, desta forma, uma enorme variedade na escolha do modelo, como era a norma para a altura. A suspensão dianteira fazia uso de molas de lâmina apoiadas numa outra mola de lâmina, colocada em posição transversal. Atrás, eram igualmente utilizadas molas de lâmina, juntamente com o eixo De Dion. De resto, este terá sido o primeiro modelo a utilizar o famoso eixo patenteado, uma inovação que faria a sua aparição em inúmeros modelos de outras tantas marcas.
Equipada com o rotativo motor monocilíndrico – a potência máxima era atingida às 1500 rotações por minuto quando, por exemplo, o motor de um Benz ficava pelas 500 rotações por minuto – a pequena viatura depressa ganhou adeptos que viam a potência do seu motor, mas também o excelente chassis, como predicados sem par na época. Este terá sido o primeiro automóvel verdadeiramente prático, ajudando a popularizar o conceito um pouco por toda a Europa.
No princípio do século, De Dion Bouton foi o maior produtor europeu, em série, de automóveis. O modelo era muito popular e apreciado pela sua robustez e elevado rendimento. Em Lisboa, fez até a demonstração de subir, com três passageiros, a Calçada da Glória. Tinha como agente em Portugal a Auto-Palace Sociedade Portuguesa de Automóveis. Na época, este modelo custava 1500 escudos. Possuía soluções técnicas originais, tais como a suspensão traseira tipo De Dion e caixa de velocidades com embraiagem automática acoplada a cada carreto.
Descoberto numa Quinta em Espariz, na Beira Alta, totalmente desmontado, foi comprado em Abril de 1959 por João de Lacerda ao seu proprietário, o Capitão Eduardo Serpa Ferreira, que revelou ter sido oferecido pela Rainha D. Amélia ao seu avô, General Serpa Pimentel, Administrador da Casa Real.
Teve uma reconstrução difícil e demorada, devido ao extravio de peças, dificuldade superada com a colaboração de coleccionadores britânicos. Os trabalhos de restauro foram executados em Lisboa, com a preciosa ajuda do Eng.º José Jorge Canelas e do seu mecânico José Martins.
O rigor do restauro foi até à pintura exterior, feita com a aplicação, à trincha, de sete camadas de tinta, pelo pintor de carruagens de cavalos, Aurélio, de Santarém, que, instalado no Caramulo, demorou 15 dias a completar a obra, cobrando 120 escudos/dia, alojamento e muitos litros de vinho tinto.
Datado de 1906, o elegante De Dion Bouton AL, com carroçaria Tonneau e uma curiosa solução para o acesso ao assento traseiro, na qual o banco do passageiro da frente roda 90º, de forma a abrir a passagem para a retaguarda, é um dos automóveis mais antigos do Museu do Caramulo, como prova a sua matrícula com o número AA-02-59. Actualmente, encontra-se registado no Veteran Car Club of Great Britain, com o número 919.