O grande passo na sua emancipação foi quando iniciou o fabrico dos seus próprios motores, abandonando as unidades Daimler produzidas, sob licença, pela sua rival gaulesa, a Panhard et Levassor. Isso aconteceu em 1896 e em 1897 é apresentado o Type 19, com carroçaria tipo Victoria. Neste período, as carroçarias dos automóveis estavam ainda muito próximas das dos carros de cavalos. Os próprios nomes dados aos diferentes tipos reflectiam essa proximidade, com termos como Break, Phaeton ou Landau.

A carroçaria Victoria tem duas filas de bancos, sendo a segunda protegida por uma pequena capota, destinada a proprietários menos afoitos à condução e à protecção dos sensíveis cabelos das senhoras. Como o principal inimigo dos primeiros automobilistas era a poeira, a protecção oferecida pela demi-capote não devia ser brilhante.

A Peugeot foi a primeira a utilizar pneumáticos num automóvel, sendo esta novidade produzida pelos irmãos Michelin. No Type 19 eram uma opção, substituindo as rudimentares bandas sólidas de borracha. O motor está colocado atrás, por baixo da segunda fila de bancos. O condutor sobe para ocupar o seu lugar atrás do volante em posição completamente vertical. Os comandos mais à mão são o acelerador (à direita) e a ignição (à esquerda), satélites ao volante. Com as agulhetas regula-se a velocidade do motor e o avanço e atraso da ignição. O motor arranca à manivela, estabelecendo-se num letárgico ralenti. Os pedais comandam a embraiagem e os travões e, à direita, saindo por baixo do engenho, temos o comando da caixa, em linha. Desde 1896 que os Peugeot tinham caixa de quatro velocidades.

Com uma velocidade estimada de 35 km/h, o Type 19 era um automóvel veloz para o seu tempo. À velocidade de cruzeiro de 20 km/h é possível observar a qualidade dos materiais utilizados, como o couro dos bancos e as madeiras, e compreender o trabalho de restauro que foi levado a cabo, durante 12 anos, pelo Museu do Caramulo, para devolver a este magnífico exemplar – dos 75 produzidos, poucos sobrevivem – a perfeição de outros tempos. Fazê-lo cumprir a sua função, como automóvel, é um elogio, não só aos pioneiros do automobilismo, mas também aos pioneiros da conservação do património automobilístico nacional.