Completo, com suspensão do tipo Eduardiano, o chassis do New Phantom era herdado do antecessor Silver Ghost, mas o motor apresentava um tipo de construção totalmente diferente, com seis cilindros em linha, divididos por dois blocos partilhando o carter, com duas válvulas à cabeça por cilindro, operadas por uma árvore de cames montada na cambota. Com uma capacidade de 7668cc, o novo motor era mais eficaz que o do anterior modelo.
A transmissão era assegurada por meio de uma caixa de velocidades de quatro relações com embraiagem de disco a seco, com controlo remoto à direita do automóvel, accionando um eixo rígido por meio de um veio de transmissão.
A grande inovação operada na parte mecânica do novo Rolls-Royce foi a inclusão de um sistema mecânico de assistência à travagem nas quatro rodas, visto pela primeira vez nos Hispano-Suiza. Utilizando um pequeno motor acoplado à caixa de velocidades, o novo sistema servia-se do movimento gerado pelo motor para auxiliar na travagem. Refinado e bastante prático, o sistema manteve-se em produção durante uma geração inteira de modelos Rolls-Royce, sendo posteriormente trocado por um sistema accionado por vácuo, mais fiável e moderno.
Construído em Inglaterra e nos Estados Unidos, na cidade de Springfield, o New Phantom fazia-se valer do seu recém-criado motor e da qualidade de construção ímpar para acumular vendas. Do Phantom foram vendidas cerca de 2250 unidades, sendo substituído pelo modelo Phantom II, que vendeu 1767 unidades e que, por sua vez, foi substituído pelo Phantom III em 1935.
O Phantom II foi recebendo alguns melhoramentos pontuais, como os sincronismos da caixa de velocidades, uma relação final mais silenciosa e ainda um veio de transmissão do tipo exposto, enquanto o chassis recebia um novo sistema de lubrificação por meio do túnel central.
A história do “segundo fantasma” do Museu do Caramulo está intrinsecamente ligada ao primeiro importador da marca inglesa para Portugal, Harry Charles Rugeroni, e a seu pai José Rugeroni, especialista na marca fundada por Henry Royce e Charles Rolls.
Nascido em 1911, Harry Charles Rugeroni foi, desde muito novo, instruído pelo seu pai na arte de bem cuidar das criações da Rolls-Royce, instrução que teria o seu ponto alto em 1929 com o seu ingresso na fábrica da marca em Derby, de modo a ser completada a sua formação profissional.
Este ingresso na fábrica da Rolls-Royce permitiu ao jovem Rugeroni acompanhar de perto a manufactura de um modelo Phantom II, encomendado pelo seu pai, em 1930. Carroçado totalmente em alumínio pela Weymann, com um desenho feito pelo próprio José Rugeroni, o Phantom II era facilmente reconhecível pelo estilo da sua carroçaria Sports Coupé e pelo facto de implementar um inovador sistema de abertura de portas com fechos/dobradiças. Denominado doubleentre, o sistema permitia a abertura das portas nos dois sentidos, facilitando dessa forma o acesso aos lugares traseiros. A atestar a sua grande beleza, o Phantom II, desenhado por Rugeroni, viria a ser premiado com o 1º Prémio de Elegância e Conforto, no Campo Grande, em Lisboa.
A 18 de Abril de 1932, o Phantom II Sports Coupé era registado em Portugal, pela primeira vez, em nome do Engenheiro Carlos Machado Ribeiro Ferreira. No entanto, o automóvel terá sido despachado para Portugal antes, a 12 de Novembro de 1930. Por volta dessa altura, o Phantom II perdia o duplo sistema de abertura das portas, considerado demasiado perigoso.
Actualmente com 78.860 km, o Phantom II foi salvo da sucata por João de Lacerda a 31 de Março de 1956, sendo posteriormente recuperado por Harry Rugeroni que, 19 anos depois, voltava a encontrar a criação de seu pai.