
As vitórias de Nuno Álvares Pereira contra os Castelhanos, a tomada de Arzila e Tânger por D. Afonso V, o descobrimento do caminho marítimo para a Índia no reinado de D. Manuel, os triunfos de D. João de Castro na Índia, a presença portuguesa na tomada de Túnis, o império português chegando às quatro partes do mundo no reinado de D. João III, deram aso à encomenda de tapeçarias na Flandres fixando e glorificando esses factos.
A chegada dos portugueses à Índia deu lugar a duas séries distintas. É largamente conhecida a encomenda manuelina celebrando o descobrimento do caminho marítimo para a Índia. Não existem dúvidas, pois, de que houve uma encomenda destas tapeçarias e de que, pelo menos parcialmente, foi realizada. O documento desta encomenda traduz a vontade de fixar plasticamente aqueles sucessos, mediante grande rigor cronológico e descritivo, não esquecendo, no entanto, as particularidades locais do ponto de vista dos costumes, da fauna e da flora. A outra série de tapeçaria, directamente relacionada com o descobrimento da Índia, é aquela designada como “À maneira de Portugal e da Índia” e cujos exemplares no Museu do Caramulo constituem o objecto deste trabalho. Não se conhecem documentalmente provas que associem esta série directamente com uma encomenda régia nacional. Nem se encontram nelas, explicitamente figurados, elementos que por si só permitam a afirmação peremptória da sua filiação a uma encomenda portuguesa. No entanto, o seu significado, como testemunho do impacto cultural e psicológico causado pela chegada à Índia, é da maior importância.
Estas obras traduzem fundamentalmente o sentimento desse primeiro momento em que o olhar é ainda apenas um doce espanto e reflectem o esforço enorme de apreensão e integração do conhecimento das novas realidades nas estruturas do saber vigentes. A tradução plástica da emoção causada por esse primeiro momento, na forma que assume nestas obras, oferece uma visão privilegiada e do maior interesse quanto ao processo de organização mental e sensível a que o alargamento do mundo conhecido obrigou. A intenção propagandística que lhes é inerente encontrou na tapeçaria um suporte adequado, num enlace fértil de poderoso vigor expressivo ao qual ainda hoje nos rendemos.