Caracterizada pela diversidade de proveniências, tal como qualquer outra categoria, a sua importância advém da diversidade de subcategorias que abrange, já que existem espécimes de paramentaria, colchas e tapetes.

No que toca à paramentaria, a colecção alberga peças dos séculos XVI, XVII e XVIII, destacando-se a casula sino-portuguesa. As restantes casulas, uma do século XVI e duas do século XVIII, revelam a evolução que esta peça de vestuário litúrgico sofreu na centúria de quinhentos: a casula do século XVI tem a parte inferior arredondada, revelando a evolução do Gótico, tradicionalmente em bico; as casulas do século XVIII caracterizam-se pela forma em violoncelo que permanecerá até ao século XX. Relativamente às dalmáticas, elas revelam o gosto tipológico característico do século XVII, quando esta peça adquire uma aparência mais complexa e, portanto, mais barroca. Resta-nos referir o gremial, uma peça de excelente qualidade plástica, onde o requintado trabalho de bordado contribuiria para o fausto de uma celebração religiosa ao gosto do século XVII. As colchas pertencem ao grupo, algo extenso, poderemos designar como têxteis da intimidade.

Como já concluiu Victor Jabouille, “a colcha tem, à partida, uma tripla função: doméstica, estética e simbólica. Consoante a riqueza, o grau de perfeição e a qualidade dos componentes, exprime também riqueza material, luxo” (JABOUILLE, 1985). À colcha é reservado um uso privado, numa divisão íntima, cobrindo o leito, objecto já de si carregado de simbolismo. Estas peças têxteis mais não são que membranas dividindo o mundo do inconsciente, do sono, do sonho da clara realidade. Por outro lado, a colcha protege fisicamente a intimidade, evitando impurezas e conspurcações. Um terceiro aspecto, relaciona-se com a evidente atenção atribuída à estética, enriquecendo e sublinhando a importância da cama no contexto decorativo do quarto. A peça do Museu do Caramulo é indo-portuguesa, de seda carmim bordada a fio de papel dourado. Ao centro, colocada num medalhão, a águia bicéfala pode ser interpretada, com algumas reservas, como o monograma dos Agostinianos. Respondendo claramente a um certo horror vacui, característico deste tipo de peças, a colcha apresenta uma enorme profusão decorativa. Os motivos vegetalistas ocupam, num entrançado complexo, toda a área disponível, enquadrados numa divisão normal destas colchas: entre o campo e a banda-moldura.

O goderim, de manufactura indo-portuguesa, é um exemplar extraordinário dessa arte. Os tapetes, integrando uma série de peças que poderíamos designar por têxteis do conforto, são pensados, sujeitos ao gosto e adquiridos com o intuito de tornar mais habitável o local que poderemos apelidar, com mais propriedade, como nosso.

O tapete de Arraiolos datado do século XVII, possui um bordado característico do período primitivo, uma vez que os contornos dos desenhos são executados em ponto pé-de-flor, enquanto o campo é preenchido com pontos de Arraiolos tradicionais. O campo é decorado com fundo castanho, que poderia ter sido vermelho, sendo os contornos dos desenhos bordados a ponto pé-de-flor em tons esverdeados e em tom de marfim. Devido ao estado da peça, é muito difícil definir as cores que o caracterizam: são acinzentados (que poderiam ter sido azuis), tons rosados e avermelhados, tons amarelados e outros esverdeados. Atente-se numa curiosidade da peça: a presença de oito veados bordados entre os diversos motivos decorativos. A barra, por seu turno, é em fundo azul, decorado com motivos vegetalistas. Os contornos dos desenhos são, igualmente, executados em ponto pé-de-flor de tom acastanhado e nas matizações evidenciam-se os tons azulados, esverdeados e acastanhados que terão sido, possivelmente, diferentes.