Apresentar outros “Passeios” que possam ser dados, introduzindo nos circuitos existentes obras que estabeleçam relações que, sendo sugeridas pelo ambiente e características de algumas das peças da colecção, não fossem ainda imediatamente perceptíveis.
Em conversa com os artistas escolhidos – Gonçalo Barreiros, Manuel Botelho, Pedro Calapez, Luísa Cunha, Jorge Molder, Teresa Segurado Pavão, Pedro Cabrita Reis e Francisco Tropa – fomos delineando possíveis estratégias de intervenção para cumprir esse objectivo. Ficou claro que seria mais interessante se fossem utilizadas a maior parte das áreas do Museu: o espaço exterior, várias salas do piso superior, as vitrinas e também o espaço de exposição dos automóveis.
No exterior do Museu, uma peça de P. Cabrita Reis, “Outras árvores”, sinaliza o espaço e dialoga com um conjunto de árvores, introduzindo o visitante à exposição. Ao longo do percurso vão-se sucedendo os momentos em que são propostas novas visões da colecção. A escultura de F. Tropa, na sua singular configuração, é uma vanitas que se insere bem na narrativa de tom fúnebre da sala 1. Desde esta sala, e até ao fim do percurso, todas as vitrinas contêm peças em cerâmica de T. S. Pavão que dialogam com os muito variados objectos nelas contidos. Podemos dizer que o desenho é a prática subjacente a quase toda a obra de P. Calapez. O grande desenho apresentado na sala das tapeçarias “mapeia” o chão da galeria e tem eco nos dois outros, expostos na parede, de carvão e grafite sobre papel. A carga política de algumas das obras da colecção é posta em relevo na “conversa” estabelecida entre a fotografia de M. Botelho e a pintura de Eduardo Malta que retrata Salazar. Duas fotografias de J. Molder integram a zona onde a pintura de retrato tem uma forte presença. As auto-representações deste artista, aqui numa versão clownesca, põem em causa a própria viabilidade do retrato individual. As obras de L. Cunha são muitas vezes imateriais, constituídas por sons que interrompem o silêncio que estamos habituados a observar durante a visita a um museu. Neste caso uma voz parece dirigir-se directamente ao observador, chamando a sua atenção para algo que não podemos ver. No espaço do pavilhão onde estão expostos os veículos automóveis, aquilo que vemos não é exactamente o que parece: na obra de G. Barreiros o que julgamos ser um conjunto de câmaras-de-ar em diferentes estados de esvaziamento, revela-se, num segundo momento, uma construção em metal que, juntamente com o texto“Declaração amigável”, ironiza sobre a relação que estabelecemos com os automóveis e quem os conduz.
Rui Sanches