Terracota, faiança, porcelana e grés, são algumas das mais conhecidas designações que têm na sua origem uma matéria extremamente abundante na superfície terrestre: a argila, também conhecida por barro. Mistura de água e minerais, caracteriza-se pela enorme plasticidade enquanto húmida, pela dureza quando seca, e, pela resistência, após cozedura.
Dificilmente se encontrará um país onde a cerâmica ocupe ainda hoje um lugar tão central na vida das suas populações como em Portugal. Fachadas revestidas a azulejo são parte integrante da paisagem e serão poucas as casas onde não se encontra uma qualquer peça da dita louça das Caldas, uma figura de animado artesanato ou uma velha peça utilitária em barro preto ou vermelho usada vezes sem conta na preparação de jantares de família.
Não admira por isso que os oleiros e artistas plásticos nacionais continuem a apostar no potencial da cerâmica, moldando e pintando com imaginação pastas várias. A peça Assemblage #9 (exposta em frente) não é somente a junção de três pratos de abas e oito jarros com formas tradicionais. É também a soma de tradições seculares com o espírito criativo de dois homens: Adelino Silva (n. 1934) é um conhecido oleiro da região de Mafra que rodou as referidas peças e que, logo em seguida, o artista plástico Pedro Cabrita Reis (n. 1956) combinou e aconchegou no ano de 2003.
Surpreendente é a pouca atenção que a chamada cerâmica de autor tem recebido por parte de instituições museológicas, dos historiadores de arte e mesmos dos coleccionadores. Alguns nomes são sobejamente conhecidos, mas um enorme número de outros ceramistas e artistas plásticos realizou igualmente peças originais e únicas que permanecem ignoradas. O objectivo desta exposição é proporcionar, em simultâneo e pela primeira vez, uma visão geral da produção nacional durante todo o século XX, trazendo para a esfera pública o que ainda hoje é conhecido por poucos.
Pedro Moura Carvalho, Ph.D.