Dificilmente se encontrará um país onde a cerâmica ocupe ainda hoje um lugar tão fulcral, na paisagem e vida das suas populações, como em Portugal.
Fachadas revestidas a azulejo são parte integrante da paisagem e serão poucas as casas onde não se encontra uma qualquer peça da dita louça das Caldas, um velho recipiente em barro preto ou vermelho usado vezes sem conta na preparação de repastos familiares, uma figura de animado artesanato ou mais uma versão do Galo de Barcelos.
Desde há vários milénios que a cerâmica ampara a civilização e o homem, seduzido, explora continuamente novas fronteiras refinando argilas e vidrados, técnicas de produção e decoração. Terracota, faiança, porcelana e grés são alguns dos tipos de cerâmica mais comuns. Todos têm, na sua origem, uma matéria extremamente abundante na superfície terrestre.
Numa época em que novos materiais são inventados regularmente, o barro continua ainda hoje a ser utilizado numa variedade de indústrias e como meio de expressão artística. Mistura de água e minerais, caracteriza-se pela sua enorme plasticidade enquanto húmido, pela sua relativa dureza quando seco, e pela sua resistência, após cozedura. Por estas e outras razões, oleiros e artistas plásticos apostam, ainda e sempre, na cerâmica como forma de expressão artística.
Desde os finais do século XIX que artistas plásticos se entusiasmam com o potencial da cerâmica, moldando e pintando com imaginação pastas várias. Como ilustrado pelo relativamente pequeno, mas excepcional conjunto de peças pertencentes ao Museu do Caramulo, foi em França que a cerâmica de autor deu os passos decisivos para se afirmar como disciplina autónoma e com potencial para atrair alguns dos mais brilhantes nomes da arte europeia do século passado. Tal movimento, informal e nada espontâneo, chegou a Portugal onde também aqui foram muitos os artistas que se dedicaram a parte de meados da década de 1940, à cerâmica. E por esta e outras razões que o Museu do Caramulo é o local ideal para acolher aquela que será a mais abrangente selecção de cerâmica tridimensional, de autor e de origem nacional, alguma vez reunida.
O objectivo é dar, em simultâneo e pela primeira vez, uma visão geral da produção do século passado, trazendo para a esfera pública o que inexplicavelmente teima em ser quase desconhecido.