O raríssimo blindado alemão da Segunda Guerra Mundial Hanomag Sd.Kfz. 251 Ausf. D de 1943, acaba de se juntar à colecção permanente do Museu do Caramulo, num reforço do respectivo núcleo dedicado ao conflito que mudou a história, em constante crescimento com vista à realização de uma exposição imersiva sem precedentes em Portugal.

A derrota alemã na Primeira Guerra Mundial levou países vencedores como a França a considerar que qualquer conflito futuro seria travado nos mesmos moldes – resultando no caso gaulês na construção da Linha Maginot –, ao mesmo tempo que a escola militar alemã começou desde logo a desenvolver uma nova forma de guerra destinada precisamente a impedir a repetição da guerra de trincheiras, considerada custosa e muito pouco vantajosa. Estudou-se assim uma nova forma de combate baseada na Bewegungskrieg (guerra de movimento prussiana do Séc. XIX), adaptada de modo a aproveitar a tecnologia existente nos anos 30.

O resultado foi a Blitzkrieg, a filosofia de combate onde a actuação conjugada e concentrada de carros de combate, carros blindados, infantaria, artilharia e força aérea permitia penetrações profundas, com o cerco de pontos fortes inimigos que eram ultrapassados e posteriormente destruídos pela aviação e pela segunda vaga de tropas.

Neste conceito de guerra de movimentos teorizou-se que os carros de combate das futuras divisões blindadas seriam acompanhados pela artilharia e infantaria, com a inovação desta não poder deslocar-se a pé ou a cavalo, como era a norma até então, nem ser transportada em camiões vulgares, pois estes não ofereciam protecção nem a capacidade em todo-o-terreno dos veículos sobre lagartas.

Tendo em conta esta necessidade, a partir do estudo do pioneiro meia-lagarta francês Citroën-Kégresse, o engenheiro militar Ernst Kniepkamp realizou os desenhos preliminares dos veículos equivalentes alemães com rodas dianteiras direccionais como um camião comum e trilhos nas rodas traseiras para uma melhor tracção. A partir desses esboços foi desenvolvida pela indústria alemã uma gama completa de viaturas deste tipo, composta por modelos entre uma e 18 toneladas de peso, suspensões com barras de torção, sistema Cletrac de frenagem, direcção complementar através dos trilhos e, em alguns dos modelos, o uso de chapas de aço inclinadas que ofereciam protecção balística contra armas de fogo portáteis e estilhaços de artilharia. Em resumo, uma nova classe de viaturas multifunções, blindadas, rápidas e com forte capacidade todo-o-terreno.

Entre estas, a mais conhecida, produzida por mais tempo e em maior número (15.567 exemplares declinados em diversas variantes) foi o modelo Sd.Kfz. 251, oficialmente denominado como Mittlere Schützenpanzerwagen Sd.Kfz. 251 (veículo médio blindado de assalto). Concebido pela Hanomag utilizava como base o chassis do meia-lagarta Sd.Kfz. 11 de três toneladas, recebendo em seguida uma angulosa carroçaria blindada de chapas de aço endurecido, apresentando espessuras entre os oito e os 15mm.

Com os primeiros exemplares entregues ao exército em 1938, ficou determinado que cada divisão de infantaria mecanizada alemã deveria ser equipada com uma centena destes Sd.Kfz. 251, sendo que cada um iria transportar uma secção de infantes Panzergrenadier. A protecção tinha que ser suficiente contra o fogo de armas ligeiras e o armamento compreendia duas metralhadoras MG 34 para defesa anti-aérea e apoio directo.

Ao longo do conflito, os Sd.Kfz. 251 iriam acompanhar as divisões blindadas alemãs em todos os teatros de operações, não apenas no referido transporte de tropas mas sendo igualmente declinados num sem-número de versões das quais destacamos a ambulância (Krankenpanzerwagen), o porta-morteiros (Schützenpanzerwagen), o porta-pontes (Pionierpanzerwagen), o posto de comando (Kommandopanzerwagen), o carro de rádio (Funkpanzerwagen), a versão de defesa anti-aérea (Flakpanzerwagen 38), o caçador de tanques (PaK 40 L/46 auf Mittlerer Schützenpanzerwagen), a versão lança-chamas (Flampanzerwagen) e ainda versões verdadeiramente especiais como o Sd.Kfz. 251 Lança-Foguetes (Mittlerer Schützenpanzerwagen mit Wurfrahmen) denominado não-oficialmente como Stuka zu Fuß ou Stuka a pé, e o sofisticado carro projector de infra-vermelhos (Schützenpanzerwagen zur Gefechtsfeld-beleuchtung), construído apenas em 60 exemplares para actuar em conjunto com pelotões de cinco ou seis tanques Panther, munidos de equipamento para visão nocturna.

No caso particular do Hanomag meia-lagarta aqui presente, trata-se de um modelo padrão para transporte de Panzergrenadier mas ainda assim muitíssimo raro, pois será um dos escassos veículos alemães sobreviventes da sangrenta batalha pela bolsa de Falaise, travada na Normandia, teatro operacional onde este veículo serviu no Verão de 1944, ao serviço da 12ª Divisão Panzer SS Hitlerjugend.

Apresentando o número de chassis 813885, corresponde a um dos primeiros Sd.Kfz. 251 da versão D, ou seja, a evolução final do modelo com desenho simplificado que entrou em produção no mês de Setembro de 1943. Foi construído pela Hanomag e equipado com um motor Maybach HL42 de seis cilindros em linha, neste caso com o número de série correspondente ao ano de construção, preservando assim a autenticidade do conjunto.

O padrão de cor que apresenta corresponde à directiva de 18 de Fevereiro de 1943, quando foi definido que todos os veículos do exército alemão passariam a sair de fábrica com uma pintura uniforme em amarelo escuro (dunkelgelb), sendo em seguida camuflados nas unidades militares, normalmente com aplicações sobre a base original em verde oliva (olivgrün) e castanho avermelhado (rotbraun).

Ficha Técnica:

  • Ano: 1943
  • País: Alemanha
  • Potência: 100cv
  • Cilindros: 6
  • Cilindrada: 4.199cc
  • Velocidades: 4 + marcha-atrás
  • Peso: 8.000 kg
  • Vel.Máx.: 52 km/h
  • Armamento: duas MG34 ou MG42

Fotografias: Pedro Vieira