Museu do Caramulo vence Prémio Vilalva da Gulbenkian

31 de Março de 2014

O projecto de requalificação do Museu do Caramulo é o vencedor da sétima edição do Prémio Vilalva, uma iniciativa da Fundação Gulbenkian que destaca anualmente um contributo importante no domínio da recuperação do património. A distinção surge numa altura em que o Museu propõe valorizar as mais de 500 obras da sua colecção, através de um projecto de modernização das salas de exposição e de actualização do discurso museográfico.
O júri, constituído por António Lamas, José Sarmento de Matos, José Pedro Martins Barata, Dalila Rodrigues e Rui Esgaio, destacou a “relevância e oportunidade do projecto”, a “qualidade da intervenção proposta”, bem como o “criterioso respeito pelo edifício e museografias originais”, assinalando ainda o papel essencial que este Museu vem desempenhando enquanto “polo dinamizador da vida cultural da região”.
O projecto de requalificação do museu, da autoria do ateliê da arquitecta Teresa Nunes da Ponte, baseia-se no respeito pelo espaço existente, propondo uma leitura contemporânea através de uma nova distribuição das peças, do desenho de novos suportes expositivos, da introdução de novas tecnologias de iluminação e de uma nova proposta gráfica (da autoria do ateliê Pedro Falcão).
Iniciada em 1953 por Abel de Lacerda e totalmente constituída por doações, a colecção do Museu do Caramulo é um caso absolutamente único no contexto museológico português, resultando de um invulgar gesto filantrópico colectivo, ímpar em Portugal e raríssimo no mundo. A capacidade de persuasão do fundador permitiu-lhe reunir obras de arqueologia, escultura, pintura, desenho, gravura, mobiliário, cerâmica, tapeçaria, têxteis, ourivesaria, joalharia, vidros e esmaltes, doadas por coleccionadores, mecenas, artistas, amigos e ainda por algumas empresas. Ficaram célebres as visitas que realizou aos ateliês de Salvador Dali, Pablo Picasso e Fernand Léger, de onde saiu com obras oferecidas por estes artistas para a colecção.
Entre as obras reunidas destacam-se óleos de Grão Vasco, Jacob Jordaens, Quinten Metsiijs, uma tela atribuída a Frei Carlos, uma natureza morta de Pablo Picasso e a obra (“Modelo no atelier”) de Raoul Dufy. Salienta-se ainda, neste conjunto, a notável série de quatro tapeçarias do séc. XVI, “Portugueses na Índia”, realizadas em Tournai, Flandres e ainda um conjunto de peças chinesas da dinastia Ming e Qing, assim como alguns magníficos exemplares de artes decorativas
luso-orientais.
Nomes de referência da arte nacional como Amadeo de Sousa-Cardozo, Eduardo Viana, António Carneiro, Aurélia de Sousa, Leopoldo de Almeida, Vieira da Silva, Eduardo Nery, Artur Loureiro, Martins Correia, Canto da Maya, Silva Porto, Eduardo Malta e Jorge Vieira, entre muitos outros, estão representados nesta colecção.
O Museu do Caramulo dispõe ainda de um polo dedicado a uma notável colecção de cerca de uma centena de automóveis, motociclos e velocípedes antigos que abrange mais de 120 anos da história automóvel, mecânica e industrial, reunida por João de Lacerda. Trata-se de um dos melhores acervos, do género, em todo o mundo. Em Março de 2004, o Museu abriu ao público uma exposição de brinquedos antigos e miniaturas de colecção, que conta com mais de 3000 peças, cobrindo quase um século da história do brinquedo.
No valor de 50 mil euros, o Prémio Vilalva foi criado pela Fundação Calouste Gulbenkian em homenagem ao filantropo Vasco Vilalva tendo sido atribuído pela primeira vez em 2007, ao projecto de Tratamento e Divulgação da Biblioteca da Casa Sabugosa e São Lourenço, em Lisboa. Em 2008 foi distinguido o Departamento do Património Histórico e Artístico da Diocese de Beja pelos projectos Monumentos Vivos e Festival Terras sem Sombra de Música Sacra do Baixo Alentejo. Em 2009 foi premiada a recuperação das ruínas romanas de Ammaia, em Marvão, e no ano seguinte a Irmandade do Santíssimo Sacramento pela acção desenvolvida na recuperação da Igreja do Sacramento, no Chiado, em Lisboa. Em 2011 o júri distinguiu o projecto de recuperação de um edifício pombalino na Baixa de Lisboa, da autoria do ateliê José Adrião Arquitectos e em 2012 escolheu um projecto açoriano de requalificação e musealização de um conjunto escultórico do século XIX, o Arcano Místico de Madre Margarida do Apocalipse.